quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dulcis pacem

A paz não é definitiva.  É fugaz e fugidia, e teima em só nos visitar por poucos momentos.  É como um pequenino frasco de cristal, todo trabalhado, do qual linda tampa de prata é tirada e...algo etéreo escapa suavemente, sendo quase possível ver  minúsculas gotinhas furta-cores flutuando para fora do vidro, toda aquela substância se espalhando à nossa volta, trazendo uma maravilhosa e momentânea sensação de que a vida volta ao seu desejado ritmo.  Você sabe que aquele momento é precioso, e que em breve o encanto se desmanchará, e o turbilhão inquietante  voltará a  agitar o seu coração e a sua mente mas, naquele breve momento, a paz está ali, você pode senti-la, delicada como as asas diáfanas de uma fada e ainda assim real como o aroma de lavanda... Nesse instante, há que aspirá-la, suave e demoradamente, inalá-la com igual delicadeza... Guardar na memória da alma esse sentimento de dádiva, para poder lembrar-se dele nas noites de tempestade... Como o perfume de malva que evanesce na atmosfera, a paz se dilui na buzina que toca, no passo que apressa, no relógio que grita a hora, no compromisso, na conta, na incerteza.  Sim, a tampa volta novamente ao seu lugar, lacrando nosso contato com a doce presença.  Pegamos o ônibus, o metrô,  e mergulhamos no fluxo intenso da correria diária.  Afundamos em pensamentos, decisões, estudos, projetos, conflitos e problemas e exalamos o stress que bem conhecemos. Ficamos cansados, consumidos.  É hora então de fechar os olhos e se permitir  uma pequena viagem mágica;  imaginar a luz sobre o  cristal do frasco pintando arco-íris e formas coloridas ... A luz sobre o metal bordado da tampa criando faíscas prateadas , tornando-a delicadamente brilhante... Como uma inspiração merecida, levantamos a tampa com reverência;  leve e inebriante, o aroma mágico nos  acaricia e nos envolve como um beijo terno: é o doce hálito  de Deus, ao qual chamamos de paz.