sábado, 13 de abril de 2013

Vítimas de vítimas

Pra quem já teve oportunidade de ler Louise Hay ("Você pode curar sua vida"), o que vou falar aqui não é novidade, mas não deixa de ser uma reflexão bem legal sobre as nossas próprias dores... Lembram que sempre disse que o objetivo desse papiro é ser lenitivo e bálsamo? Pois é.  Então queria falar sobre algo com que me deparei no livro da Louise: a consciência de que somos, todos, vítimas de vítimas...
Segundo a autora, seguimos repetindo em nossa vida, muitas vezes, padrões e comportamentos que estão arraigados em nós, padrões e comportamentos que vivenciamos, provavelmente na infância mas também em outras épocas de nossa vida... Mesmo que esses padrões sejam negativos ou destrutivos, o que nos leva a repeti-los, inconscientemente, é que já sabemos como lidar com eles: a crítica, o abandono, a mentira, o desamor... O que ficou registrado lá trás, pela ótica da nossa criança interior, é o que vale, não importa se verdade ou não, o que conta foi como ela captou e vivenciou a experiência. E a criança, pequena que era (e que ainda vive em nós), não tinha como  entender as dores e feridas dos que então nos machucaram, não tinha como colocar tudo numa ótica mais real, pesar e ponderar sobre as dificuldades e carências de cada um...  Nossa criança registrou apenas a crítica, a mentira, ou aquilo que ela entendeu como abandono e desamor.
Mas...  para libertar-se dos medos, fobias, inseguranças, traumas, e tudo o mais que acorrenta a nossa alma, temos que  voltar ao passado?  Trilhar as mesmas dores, reencontrar os nossos monstros, que a custo colocamos pra dormir? Abir de novo as chagas que considerávamos esquecidas?
A grande resposta é que todas essas mazelas  estão no presente, e não no passado. Estamos arrastando-as por aí, como grilhões de prisioneiros, como correntes de fantasmas, como espectros assustadores em filmes de terror.. Abrir a porta do quarto, atravessar a escuridão de nós mesmos, tropeçar em esqueletos mutilados e tatear até a janela, abrindo-a com autoridade para que a luz volte a brilhar em nós,  como bem reconta  Clarissa Estés no clássico "Barba Azul" é a chave que nos liberta.
Aí, sei lá, lendo isso tudo, escrevi esse texto , que divido com vocês:


Há pessoas que têm tanto medo de perder alguém
Talvez porque já sofreram a perda há muito tempo
Foram abandonadas, no sentido literal da palavra
Deixadas de lado, deixadas pra trás
E por mais que encontrem um porto seguro em suas vidas
Se não conseguirem se libertar dessa dor que as consome
Vão seguir por aí cometendo erros
Correndo atrás de quimeras porque não querem enfrentar
Sua própria dor no espelho.
Guardaram sua dor
Num armário muito escuro
Num  baú muito fundo
Num lugar muito ermo
Onde pensam nunca mais ter que passar e encarar a dor outra vez.
E  seguem, cometendo com os outros
O mesmo abandono que sofreram
Porque é melhor abandonar que ser abandonado
Essa dor que dilacera o nosso ser como um golpe de espada.
Melhor enganar do que aceitar que engana a si mesmo,
Melhor fazer o outro sofrer, porque não se pode suportar a própria dor.
Duro demais aceitar mas é preciso
Que os erros de nossos pais nos marcaram de uma forma  avassaladora
Que o amor só é verdadeiro quando é de entrega,
De confissão e de confiança
Que aceitar nossas falhas é crescer como gente
Que seguir errando os mesmos erros é um grilhão de dor
Do qual só nos libertamos  ao abrir o baú
Ao entrar no quarto
Ao resolver olhar o poço
Retornar à origem
Encontrar a temida dor
Deixá-la doer por algum tempo, em silêncio
E então, lentamente...
Começar a se despedir dela
Se libertar
Deixar que ela se vá ,como tantas outras coisas
Que precisamos deixar partir.
Sermos nós mesmos, com coragem.
Coragem para falar sobre nossos erros.
Coragem para aceitá-los, porque isso nos faz humanos.
Coragem pra pedir perdão.
Coragem para perdoar.
Coragem para perdoar-se.