quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Equilíbrio

Há dias atrás fui procurar um livro antigo do Lourenço Prado, chamado  Equilíbrio e Recompensa.  Porque se há uma coisa de difícil aprendizado para mim é essa  manutenção do equilíbrio. O equilíbrio é diferente da paz, eu acho. A paz é volátil;  por ser inebriante é mesmo de sua característica ser passageira; visto que nenhum perfume ou aroma pode permanecer  para sempre.  Quando a paz se vai, é nesse momento que deve ficar o equilíbrio.  Difícil.
Outro dia recebi um powerpoint sobre um velho mestre samurai que, frente a um jovem da cidade que o desacatava e o ofendia, permaneceu impassível ouvindo todas as espécies de injustiças até que o ofensor, cansado e frustrado, desistisse do seu intento e fosse embora.  Ao ser perguntado como pôde manter a calma  frente àquela chuva de acusações, o mestre explicou que era uma questão de aceitar ou não as ofensas... Não as aceitando  intimamente, o ofensor as levaria de volta, carregando o peso de cada uma delas...
Procuro uma imagem que represente esse desejado equilíbrio.  A primeira imagem que me vem é a de um lago, mas vejam,  abaixo de sua superfície espelhada  agitam-se dores e sentimentos e emoções tão intensas. Sua superfície é lisa como um espelho que reflete as rochas e as árvores , mas um mergulho no seu escuro  frio  traz  a certeza que esse é um caminho  perigosamente envolvente, onde os sentimentos há muito sedimentados no fundo voltam em turbilhão e comprometem  a transparência da água.  A imagem da âncora, então aparece...  Uma guia, uma corda, com uma âncora confiável lá no fundo, pode ajudar nessa descida exploratória.  Descendo lentamente, tendo como direção o traçado da corda que termina na âncora,  poderemos ir mais profundamente. Descendo lentamente, a suspensão será menor e poderemos vislumbrar melhor todos os sentimentos que se agitam dentro do nosso próprio eu.  Com a mão na guia, saberemos que o caminho de volta à superfície é garantido; então poderemos nos permitir ficar inertes por um momento, e observar a água voltar a clarear,  a luz  do sol incidir mesmo no lugar mais profundo, ouvir o som da nossa respiração em sintonia com o silêncio... Sentir enfim que, seja qual for a onda com que a desolação nos atinja, esse momento irá passar e voltaremos a deitar sobre a relva à beira do lago, aquecer-nos sob um sol que nos abraça e, quem sabe sentir novamente o aroma da paz.