Pesquisando
sobre Eros e Psiquê, me encantei com o romance dos dois... E encontrei algumas referências
bem interessantes, que me remeteram a outras histórias...
Psiquê,
mortal e linda, filha de um rei não muito importante, é alvo da inveja de
Afrodite, a deusa da beleza, que manda seu filho Eros a acertar com uma flecha,
fazendo assim com que a princesa se
apaixone pelo ser mais horrendo que por ali haja.
Sim, Eros e
Cupido são a mesma divindade, mas não aquela coisinha rechonchuda e infantil,
mas um belo rapaz com sua aljava e flechas de paixão...
Ocorre que
Eros, encantado com a beleza de Psiquê, se arranha com uma de suas flechas e se
apaixona perdidamente por ela. ( Até aí, quem lembrou da rainha bonita e
malvada, que manda Branca de Neve para a floresta com o caçador, por pura inveja,
dando ordens explícitas sobre sua morte?
Pois é , o caçador também fraquejou...)
Apaixonado
que estava, Eros não cumpriu a ordem de sua mãe Afrodite, e o tempo foi
passando sem que a princesa arrumasse um pretendente, o que passou a preocupar
seu velho pai, que já havia casado duas filhas não tão belas, e não podia
entender como Psiqué continuava sozinha. Procurou então um oráculo que, graças à
armação de Eros, disse que a filha estava fadada a casar-se com um monstro. Muito desolado, porém obediente, o pai
abandonou a filha num rochedo à própria sorte, onde o monstro viria buscá-la. Psiquê acabou adormecendo no rochedo e foi
levada por Zéfiro, deus do vento, a um palácio suntuoso, com maravilhosas
iguarias. Lá, foi recebida pelo “monstro”
que, sem nunca mostrar a sua face, a iniciou em todos os prazeres e delícias do
amor... Todas as noites eram noites de amor e paixão, e Psiquê estava muito
feliz , embora sem conhecer o rosto de seu marido. ( Quem lembrou da Bela e a Fera, sozinhos
naquele castelo enorme? Depois daquela
valsa memorável, com trilha sonora vencedora do Oscar, hummm....)
Acontece
que o Inimigo sempre e todo o tempo procura uma brecha para se meter nas
relações humanas ( e pelo jeito nas divinas também) e plantou na Psiquê uma
saudade de suas irmãs, que foram visitá-la depois dos pedidos insistentes da
princesa a seu esposo. As irmãs, ao
verem a felicidade e riqueza de Psiquê, também ficaram encharcadas de inveja (
de novo , a inveja) e começaram uma teia de intrigas contra o marido da outra,
dizendo que na verdade ele devia ser uma serpente disfarçada, e que a estava
alimentando para depois devorá-la. Tanto
fizeram que Psiquê, cheia de dúvidas,
resolve uma noite espiar o rosto do marido adormecido, depois de uma fantástica
sessão de amor. Vai armada com uma faca,
pois se fosse verdade o que as irmãs afirmavam, melhor seria matar logo a
fera... Qual não foi o choque ao ver, não um monstro horrendo, mas as feições
divinas do deus do amor, que escondia o rosto para que a mãe não descobrisse
sua desobediência. Psiquê ficou tão estarrecida com a beleza do esposo que
deixou pingar o óleo quente da lamparina no ombro de Eros, que acordou assustado
e traído com a falta de confiança da moça: abriu suas asas e voou janela afora ,
ele que tanto havia advertido à amada sobre a intriga das irmãs . Psiquê, desesperada, se joga da janela do
palácio no cume da montanha. Zéfiro, no entanto, a socorre e a traz de volta ao palácio. As malvadas
irmãs, acreditando que o lindo Eros olharia para elas agora que estava magoado
com Psiquê, atiram-se também pela janela atrás dele, mas o que as aguarda é
somente o precipício... ( Quem leu a história de Vasalisa, vai lembrar das
irmãs malvadas que viraram carvão ... ou ainda das horrorosas irmãs postiças de
Cinderela...)
Começa
então a peregrinação de Psiquê, sem dormir ou comer, na busca para recuperar
seu amor. Como na lenda da Donzela sem
mãos, ela vaga sem rumo até encontrar um castelo onde mora Deméter ( lembram de
Deméter, a mãe-terra, mãe de Perséfone?).
Psiquê
ajuda Deméter a separar grãos de trigo, espigas de milho e ferramentas, que
estavam misturadas por todo o palácio, e Deméter, em retribuição, como a sábia
Baba Yaga de Vasalisa, como a Mulher Selvagem que habita em nós, como a Mãe-Terra protetora e Voz do Intuição que
habita nosso íntimo, ensina à moça o caminho para recuperar Eros:
conseguir o perdão de sua mãe Afrodite.
Afrodite
estava muito satisfeita cuidando da chaga que a traição de Psiquê havia causado a Eros, e não
gostou nada de ver aquela mortalzinha chegando, propondo reconciliação. Assim, deu a Psiquê uma tarefa , certa de que
ela não a cumpriria, firmando de vez a certeza de que ela não era digna de seu
filho. E assim parte Psiquê, como tantos outros heróis, para ser testada em uma
tarefa impossível de se cumprir, e armada apenas de seu amor e coragem.
Afrodite
coloca Psiquê num quarto repleto de grãos de diversas espécie ( de novo, os grãos
de Baba Yaga...) que ela deveria separar em pilhas. A moça começa o trabalho e no meio da noite,
adormece, extenuada. Mesmo levando
vários dias ela não conseguiria terminar tal triagem. Porém um exército de formigas invade o quarto
e faz todo o trabalho e, quando Psiquê acorda, o que era impossível estava
feito.
Afrodite,
contrariada, pensou logo em outra tarefa para a mortal, de preferência uma bem
estafante e perigosa para que ela perdesse logo a sua beleza e juventude,
motivos de seu ciúme. Mandou a moça
trazer a lã do velocino de ouro. Ora, o velocino de ouro costumava pastar
próximo a um rio, cercado de outras feras. Psiquê não sabia como se aproximar
dos animais para cortar-lhe a lã sem correr risco de vida. Uma voz nos juncos, entretanto, lhe cochichou
que, junto à margem onde os animais costumavam beber água, havia um espinheiro,
e lá se prendiam vários tufos da lã dos animais, que ela poderia colher. (Assim, uma vez mais, a boneca de Vasalisa,
ou seja , a intuição, levou a heroína a conquistar o que parecia impossível.)
A mãe de
Eros não se conformou com o sucesso da princesa e deu-lhe outra ordem: que
trouxesse a escura água da nascente do rio Estige. Tal nascente, no entanto, ficava no alto de
uma montanha inacessível, e Psiquê, com um vaso nas mãos, imaginava o que fazer
quando as águias de Zeus surgem, tomam-lhe
a ânfora e a levam até a nascente no
cume, enchendo-a e devolvendo-o à princesa. (Lembrei-me das águias de Gandalf
salvando Frodo e Sam na Montanha da Perdição, e também da história da esposa
devota enfrentando a montanha em “O urso da meia lua”).
Afrodite
decide pegar pesado: com a desculpa que tinha desgastado um pouco de sua beleza
com os cuidados com a ferida do filho,
manda Psiquê pedir a Perséfone uma caixa com um pouco de sua beleza. Ora, como já postei aqui no blog, Perséfone
tinha sido raptada por Hades, o Senhor dos Mortos, e levada para ser sua esposa
no mundo inferior. Afrodite imaginava
que , mandando Psiquê para o mundo dos mortos, ela não teria como regressar. ( A rainha malvada mostra sua cara de bruxa e
tenta enfiar a maçã envenenada na goela da inocente Branca de Neve...) Psiquê pensou em se jogar de uma alta torre
para, morrendo, poder entrar no reino de Hades.
Foi com espanto que ouviu a torre
murmurar-lhe sobre uma caverna que dava acesso ao reino subterrâneo; a torre ensinou-lhe
a driblar os perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e ainda
providenciou uma moeda para pagar a travessia de volta. Instruiu ainda a princesa a não olhar o
conteúdo da caixa que Perséfone lhe daria, pois a beleza dos deuses não era
para olhos mortais.
A história
não explica porque Perséfone atendeu ao
pedido da princesa; mas afinal não era sempre que aparecia alguém vivo por lá e
a própria Perséfone também já tinha empreendido sua jornada de crescimento;
talvez tenha sentido alguma simpatia por aquela menina bonita que estava
virando mulher. De qualquer maneira, Psiquê volta com a caixa, mas... não sem
ceder à tentação de dar uma olhada, pensando que a sua própria beleza pudesse
estar desgastada depois de tantas provas. Ao abrir a caixa , lá não havia
beleza mas um sono terrível que se apossou de Psiquê, deixando-a desacordada.
Como o rei
da Donzela sem Mãos, entretanto, como Felipe que venceu todos os obstáculos
para chegar à sua amada Aurora, que dormia seu eterno sono, como o príncipe que, mesmo cego pelas maldades da
bruxa consegue salvar Rapunzel de sua prisão , enfim, como os meninos que se tornam homens quando
aceitam e desejam proteger suas amadas , Eros recuperado resolve lutar pelo seu
amor: desperta Psiquê, devolve o
conteúdo à caixa e orienta à princesa que a leve à Afrodite. Enquanto ela faz isso, Eros pede ajuda a Zeus
para que aplaque a ira de Afrodite. Zeus
ordena a Hermes que traga Psiquê ao Olimpo e , com uma taça de ambrosia, a faz
imortal. Com a benção de Zeus, está
selada a união de Eros e Psiquê, e do amor dos dois nasce uma filha de nome Hedoné,
que significa prazer.
Conclusão (
ou seria a moral da história?): Só depois da jornada de cada um, do abandono do
efêmero jardim da adolescência para o ingresso na floresta da maturidade, simbólica
e poderosa, (pois é o terreno onde o amor pode enfim fenecer e renascer a cada
dia), é que finalmente foram felizes
para sempre....
* * *
Obs: Achei
na Wikipedia: "Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria a imortalidade da alma, como a borboleta que depois de uma vida rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um belo aspecto da primavera. É considerada a alma humana purificada pelos sofrimentos e preparada para gozar a pura e verdadeira felicidade":
UAU !!!! ATÉ A PRÓXIMA HISTÓRIA !!!!
UAU !!!! ATÉ A PRÓXIMA HISTÓRIA !!!!
"L'enlèvement de Psyché", de Bouguereau