sábado, 26 de março de 2011

O corpo jubiloso

À procura da beleza escondida

Para entendermos melhor o sentido da história da Mulher-Borboleta, do poder feminino que emana do corpo, seja ele como for, grande, pequeno, magro, cheio, com ou sem cicatrizes, seja qual for a forma, a idade, o tipo de cabelo:  o poder da Mulher Selvagem é mágico e latente em todas nós, basta que o despertemos.  E ele anseia por despertar !!! Por abrir as janelas da alma, esse poder é um sol que brilha de dentro pra fora, é como a luz da manhã saindo por portas e janelas em direção ao mundo.... Somos poderosas e belas, simplesmente porque somos mulheres, lobas amantes e maternais, companheiras fiéis à sua alcatéia, caçadoras vorazes daquilo que realmente importa, somos a inspiração do divino, as musas da música, das letras, das artes, da natureza... A natureza é mulher, a Terra é mulher....

Para entendemos melhor o poder subjacente, aquilo que está por baixo, e que emana de nós como a luz dos avatares, reescrevo um trecho da Clarissa Estés onde ela mostra, em dois exemplos, que a beleza existe em cada corpo, inclusive no nosso, só precisamos abrir os olhos para enxergá-la, deixar essa luz apagar conceitos e idéias que os outros, coitados, teimam em querer nos inpigir...  Voltemos pois a aprender com as velhas, com os índios, com os antigos, ou seja, com os que realmente sabem....Boa leitura !!!!


“ Passei por duas experiências decisivas quando estava com  vinte e poucos anos, experiências que contrariavam tudo o que me haviam ensinado sobre o corpo até então.  Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres, à noite junto ao fogo e perto de fontes termais, vi uma mulher nua de cerca de 35 anos.  Seus seios estavam murchos de amamentar; seu ventre, estriado de dar à luz,  Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões sofridas pela sua pele fina e clara.  Alguém estava tocando tambores e maracás, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios , a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes.  Como era linda, como era cheia de vida.  Sua graça era de partir o coração,  Eu sempre havia ridicularizado a expressão “furacão nos quadris”. Naquela noite, porém, vi um exemplo.  Vi o poder das suas ancas.  Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar:  o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro para fora.  Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu uma mulher muito mais velha.  De acordo com os padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com peras, seus seios eram ínfimos  em comparação, e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas.  Uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo, indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte para descascar maçãs.  Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos,
Era, portanto, um mistério o motivo pelo qual os homens zumbiam à sua volta como se ela fosse um favo de mel.   Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito, descansar o rosto nas teias das varizes.  Seu sorriso era deslumbrante, seu caminhar, extremamente belo.  E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estava vendo.  Vi novamente o que me haviam a ignorar, o poder no corpo.  O poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com vergonha da própria carne."

Por Clarissa Estés,  em Mulheres que correm com os lobos