À procura da beleza escondida
Para entendemos melhor o poder subjacente, aquilo que está por baixo, e que emana de nós como a luz dos avatares, reescrevo um trecho da Clarissa Estés onde ela mostra, em dois exemplos, que a beleza existe em cada corpo, inclusive no nosso, só precisamos abrir os olhos para enxergá-la, deixar essa luz apagar conceitos e idéias que os outros, coitados, teimam em querer nos inpigir... Voltemos pois a aprender com as velhas, com os índios, com os antigos, ou seja, com os que realmente sabem....Boa leitura !!!!
“ Passei por duas experiências decisivas quando estava com vinte e poucos anos, experiências que contrariavam tudo o que me haviam ensinado sobre o corpo até então. Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres, à noite junto ao fogo e perto de fontes termais, vi uma mulher nua de cerca de 35 anos. Seus seios estavam murchos de amamentar; seu ventre, estriado de dar à luz, Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões sofridas pela sua pele fina e clara. Alguém estava tocando tambores e maracás, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios , a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes. Como era linda, como era cheia de vida. Sua graça era de partir o coração, Eu sempre havia ridicularizado a expressão “furacão nos quadris”. Naquela noite, porém, vi um exemplo. Vi o poder das suas ancas. Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar: o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro para fora. Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu uma mulher muito mais velha. De acordo com os padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com peras, seus seios eram ínfimos em comparação, e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas. Uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo, indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte para descascar maçãs. Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos,
Era, portanto, um mistério o motivo pelo qual os homens zumbiam à sua volta como se ela fosse um favo de mel. Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito, descansar o rosto nas teias das varizes. Seu sorriso era deslumbrante, seu caminhar, extremamente belo. E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estava vendo. Vi novamente o que me haviam a ignorar, o poder no corpo. O poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com vergonha da própria carne."
Por Clarissa Estés, em Mulheres que correm com os lobos