Mil
e uma noites. Arábia. Deserto. Oásis. Odaliscas. Tendas, tapetes, narguilés.
Incenso. Música. Aromas, pimenta, especiarias. Roupas que escondem, véus que
revelam. Mãos tatuadas e adornos de
ouro, ventres que ondulam, olhos que convidam.
Mil
e uma noites. Noites incertas e perigosas para uma Sherazade sozinha e sem bússola , por caminhos apagados pelo
vento em um deserto sem lua.
Por vontade própria se entregando ao poderoso Xariar, dono de sua vida ou de sua morte, depois de saciado.
Mil
e uma noites. Quase três anos de espera. Contos e histórias tecidos na alcova,
alimentando com fantasias a imaginação do Califa, entremeando com cores e
formas seus momentos de desejo e volúpia.
Como Penélope e sua tapeçaria, tantas vezes recomeçada, na esperança
fiel do reencontro com seu esposo consumido pela guerra em Tróia, Sherazade
buscava reencontrar o verdadeiro Xariar, soberano justo e respeitado por seu
povo, e que se perdeu de si mesmo e dos
que o amavam, na amargura da sua dor.
Mil
e uma noites. Tempo necessário para que
Sherazade conquistasse o coração de seu bem amado. Tempo necessário para que ele a amasse tão
profundamente, que esquecesse a herança de dor de um triste passado. Tempo necessário para que ele decidisse confiar, se entregar. Decidisse enfrentar seus medos e seus fantasmas, da mesma forma que, poderoso, enfrentava e aniquilava seus inimigos.
Mil
e uma noites. Sherazade está pronta para partir. Entrega sua vida nas mãos do Califa. Xariar porém, apaixonado, casa-se de novo com
Sherazade, dessa vez com votos de amor
eterno. O Califa abraça os filhos que havia fecundado no ventre de sua amada, e
que serão, juntos com sua rainha, a alegria e riqueza de todos os seus dias. Maktub. O que tem de ser tem muita força.
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Obs: Sim, a Arábia impregnou a minha alma ... O espírito de Sherazade , evoluído e livre, e a beleza da sua entrega através de suas histórias, retratados na linda dançarina no deserto de Dubai. Foto de Ary Amarante.