Estou lendo "Life of Pi" , que em português ganhou o nome de " Aventuras de Pi". Adorei o filme, já vi três vezes, e comprei o livro, que é muuuuito bom. Tem vários trechos que eu gostaria de transcrever no blog mas hoje, quando estava no capítulo 56 (não se assustem , os capítulos são curtinhos!), me deparei com uma trecho que me tocou muito, pois Pi - pouco mais que um menino, náufrago solitário no meio do Pacífico, tendo como companhia apenas um feroz e assustador tigre sedento por sobreviver - descreve o medo e como esse nos toma por completo, nos domina e tenta nos vencer.
Todos nós temos uma fera que ronda à nossa volta. O leão que ruge, como diz a escritura, buscando a quem devorar... Cada um traz seu quinhão de terrores e fantasmas, que tentamos a todo custo asfixiar dentro de um compartimento secreto dentro de nós...
Sempre achei libertador entender nossos próprios medos. Olhá-los nos olhos com serena coragem, poder falar sobre eles, fazer assim uma espécie de exorcismo... Aprendemos, erradamente, que devemos calar sobre nossos medos, sobre nossos erros, sobre nossas dores. E asssim vamos acumulando uma herança tão maléfica que acaba por nos sufocar, se não totalmente, de uma forma que nos impede de aspirar a plenitude da vida.
Medos existem para serem derrotados. Afinal, viemos para lutar . E para vencer.
Obs: Como não tenho pretensão de traduzir a obra de Yann Martel, postei abaixo do texto uma tradução do dr. Google...
I must say a word about fear. It´s life`s only true
opponent Only fear can defeat life. It
is a clever, treacherous adversary, how well I know. It has no decency, respects no law or
convention, shows no mercy. It goes for
weakest spot, which it finds with unerring ease. It begins in your mind, always. One moment you are feeling calm, self-possessed,
happy. Then fear, disguised in the garb
of mild-mannered doubt, slips into your mind like a spy. Doubt meets disbelief and disbelief tries to
push it out. But disbelief is a poorly
armed foot soldier. Doubt does away with
it with little trouble. You become
anxious. Reason comes to do battle for
you. You are reassured. Reason is fully equipped with the latest
weapons technology. But, to your
amazement, despite superior tactics and a number of undeniable victories,
reason is laid now. You feel yourself weakening,
wavering. Your anxiety becomes dread. (…)
Quickly you make rash decisions. You dismiss your last allies: hope and
trust. There, you’ve defeated
yourself. Fear, which is but an
impression, has triumphed over you.
The matter is difficult to put into words. For fear, real fear, such as shakes you to
your foundation, such as you feel when you are brought face to face with your
mortal end, nestles in your memory like a gangrene: it seeks to rot everything,
even the word with which to speak of
it. So you must fight hard to express
it. You must fight hard to shine the
light of words upon it. Because if you
don´t, if your fear becomes a wordless darkness that you avoid, perhaps even
manage to forget, you open yourself to further attacks of fear because you
never truly fought the opponent who defeated you.
Preciso dizer uma palavra sobre o medo. O medo é o único adversário da vida. Só o medo pode derrotar a vida. É um
adversário inteligente, traiçoeiro, como eu bem sei. Ele não tem decência, não
respeita lei ou convenção, não mostra misericórdia. Ele vai no seu ponto mais fraco,
o qual ele encontra com uma facilidade infalível. O medo começa na sua mente, sempre. Um
momento em que você está se sentindo calmo, seguro de si, feliz. Então o medo,
disfarçado sob o manto da bem-educada dúvida, desliza em sua mente como um
espião. A dúvida encontra a descrença ( no sentido da incredulidade) e essa tenta empurrá-la para fora. Mas
a descrença é um soldado mal armado. A dúvida arrasa a descrença com facilidade. Você fica ansioso. A razão vem para batalhar por você.
Você se tranquiliza. A razão é totalmente equipada com a mais recente
tecnologia de armas. Mas, para sua surpresa, apesar de táticas superiores e um
número de vitórias inegáveis, a razão é derrotada. Você se sente
enfraquecendo, oscilando. Sua ansiedade se torna pavor. (...)
Rapidamente você toma decisões precipitadas. Você abandona seus últimos aliados: a esperança e a confiança. Neste momento, você derrotou a si mesmo. O medo, que era apenas uma impressão, triunfou sobre você.
A questão é difícil de colocar em palavras. Pois o medo, o medo real que tira seu chão, o medo que você sente quando está face a face com o seu fim mortal, esse medo se aninha em sua memória como uma gangrena: procura apodrecer tudo, até mesmo a palavra com a qual falar sobre isso. Então você tem que lutar muito para expressá-la. Você deve lutar muito para brilhar a luz das palavras sobre o medo. Porque se você não fizer isso, se o seu medo se torna uma escuridão sem palavras que você evita, e que talvez até consiga esquecer, você se abre para novos ataques de medo, porque você nunca realmente lutou contra o adversário que derrotou você.
Rapidamente você toma decisões precipitadas. Você abandona seus últimos aliados: a esperança e a confiança. Neste momento, você derrotou a si mesmo. O medo, que era apenas uma impressão, triunfou sobre você.
A questão é difícil de colocar em palavras. Pois o medo, o medo real que tira seu chão, o medo que você sente quando está face a face com o seu fim mortal, esse medo se aninha em sua memória como uma gangrena: procura apodrecer tudo, até mesmo a palavra com a qual falar sobre isso. Então você tem que lutar muito para expressá-la. Você deve lutar muito para brilhar a luz das palavras sobre o medo. Porque se você não fizer isso, se o seu medo se torna uma escuridão sem palavras que você evita, e que talvez até consiga esquecer, você se abre para novos ataques de medo, porque você nunca realmente lutou contra o adversário que derrotou você.