Estou relendo "O Alquimista". Interessante porque eu o li pela primeira vez em 1991, então faz exatamente 20 anos....
Fiquei pensando se, ao lê-lo agora, vou me deter nas mesmas partes da história que me detive há 20 anos, partes que falaram tanto à minha alma na época. Embora esteja ainda no início do livro, já reencontrei frases e citações que voltaram a me tocar... Que bom, então o tempo não me fez insensível ao chamado da Lenda Pessoal...
Resolvi copiar aqui um pequenina parábola contada por Melquisedec ao jovem Santiago, antes que ele partisse em busca do seu tesouro. Senta, que lá vem história !
"Certo mercador enviou seu filho para aprender o Segredo da Felicidade com o mais sábio de todos os homens. O rapaz andou quarenta dias pelo deserto até chegar a um belo castelo, no alto de uma montanha. Lá vivia o Sábio que o rapaz buscava.
Ao invés de encontrar um homem santo, porém, o nosso herói entrou numa sala e viu uma atividade imensa; mercadores entravam e saíam, pessoas conversavam pelos cantos, uma pequena orquestra tocava melodias suaves, e havia uma farta mesa com os mais deliciosos pratos daquela região do mundo. O Sábio conversava com todos, e o rapaz teve de esperar duas horas até chegar sua vez de ser atendido.
O Sábio ouviu atentamente o motivo da vista do rapaz, mas disse-lhe que naquele momento não tinha tempo de explicar-lhe o Segredo da Felicidade. Sugeriu que o rapaz desse um passeio por seu palácio e voltasse dali a duas horas.
- Entretanto, quero lhe pedir um favor - completou o Sábio, entregando ao rapaz uma colher de chá, onde pingou duas gotas de óleo. - Enquanto você estiver caminhando carregue esta colher sem deixar que o óleo seja derramado.
O rapaz começou a subir e descer as escadarias do palácio, mantendo sempre os olhos fixos na colher. Ao final de duas horas, retornou à presença do Sábio.
- Então - perguntou o Sábio - você viu as tapeçarias da Pérsia que estão na minha sala de jantar? Viu o jardim que o Mestre dos Jardineiros demorou dez anos para criar? Reparou nos belos pergaminhos da minha biblioteca?
O rapaz, envergonhado, confessou que não havia visto nada. Sua única preocupação era não derramar as gotas de óleo que o Sábio lhe havia confiado.
- Pois então volte e conheça as maravilhas do meu mundo - disse o Sábio. - Você não pode confiar num homem se não conhece a sua casa.
Já mais tranquilo, o rapaz pegou a colher e voltou a passear pelo palácio, desta vez reparando em todas as obras de arte que pendiam do teto e das paredes. Viu os jardins, as montanhas ao redor, a delicadeza das flores, o requinte com que cada obra de arte estava colocada em seu lugar. De volta à presença do Sábio, relatou pormenorizadamente tudo que havia visto.
- Mas onde estão as duas gotas de óleo que lhe confiei? - perguntou o Sábio.
Olhando para a colher, o rapaz percebeu que as havia derramado.
- Pois este é o único conselho que eu tenho para lhe dar - disse o mais Sábio dos Sábios. - O segredo da felicidade está em olhar todas as maravilhas do mundo, e nunca se esquecer das duas gotas de óleo na colher."