Há dias atrás fui procurar um livro antigo do Lourenço Prado, chamado Equilíbrio e Recompensa. Porque se há uma coisa de difícil aprendizado para mim é essa manutenção do equilíbrio. O equilíbrio é diferente da paz, eu acho. A paz é volátil; por ser inebriante é mesmo de sua característica ser passageira; visto que nenhum perfume ou aroma pode permanecer para sempre. Quando a paz se vai, é nesse momento que deve ficar o equilíbrio. Difícil.
Outro dia recebi um powerpoint sobre um velho mestre samurai que, frente a um jovem da cidade que o desacatava e o ofendia, permaneceu impassível ouvindo todas as espécies de injustiças até que o ofensor, cansado e frustrado, desistisse do seu intento e fosse embora. Ao ser perguntado como pôde manter a calma frente àquela chuva de acusações, o mestre explicou que era uma questão de aceitar ou não as ofensas... Não as aceitando intimamente, o ofensor as levaria de volta, carregando o peso de cada uma delas...
Procuro uma imagem que represente esse desejado equilíbrio. A primeira imagem que me vem é a de um lago, mas vejam, abaixo de sua superfície espelhada agitam-se dores e sentimentos e emoções tão intensas. Sua superfície é lisa como um espelho que reflete as rochas e as árvores , mas um mergulho no seu escuro frio traz a certeza que esse é um caminho perigosamente envolvente, onde os sentimentos há muito sedimentados no fundo voltam em turbilhão e comprometem a transparência da água. A imagem da âncora, então aparece... Uma guia, uma corda, com uma âncora confiável lá no fundo, pode ajudar nessa descida exploratória. Descendo lentamente, tendo como direção o traçado da corda que termina na âncora, poderemos ir mais profundamente. Descendo lentamente, a suspensão será menor e poderemos vislumbrar melhor todos os sentimentos que se agitam dentro do nosso próprio eu. Com a mão na guia, saberemos que o caminho de volta à superfície é garantido; então poderemos nos permitir ficar inertes por um momento, e observar a água voltar a clarear, a luz do sol incidir mesmo no lugar mais profundo, ouvir o som da nossa respiração em sintonia com o silêncio... Sentir enfim que, seja qual for a onda com que a desolação nos atinja, esse momento irá passar e voltaremos a deitar sobre a relva à beira do lago, aquecer-nos sob um sol que nos abraça e, quem sabe sentir novamente o aroma da paz.