Comprei um pequeno livrinho do Dom Cipriano no bazar do Copa intitulado "A cura da ira". Porque a ira muito me incomoda, ela é avalassadora, destruidora, terrivelmente egoísta. A ira não é de Deus, não pode ser de Deus, porque Deus é perfeição, é Vitória silenciosa do Bem. A ira é, pois, a meu ver, desolação. No entanto há aquela passagem que sempre me intrigou , Jesus colérico expulsando os vendilhões do templo. Irado sim, tomado de fúria com aquilo que Ele notou inconcebível, vergonhoso, injusto e ultrajante. Jesus teria, como homem, experimentado o sentimento assustador da fúria.
D. Cipriano diz que a ira não é o mal em si, mas a indicação de que algo vai mal em nosso interior. Que aquilo que nos deixa irados , no fundo é o que nos remete a lembranças e sentimentos dos quais temos muito medo, nos remete a coisas que temos medo de perder. A ira indicaria que algo não vai bem e pede atenção; que a ira não deve ser estimulada mas também não pode ser simplesmente reprimida, ela deve ser encarada como um sinal para que descubramos e curermos o que de verdade nos aflige e amedronta.
Pode ser. D. Cipriano é um homem sábio. Fiquei pensando que a ira é como a febre alta, não a enfermidade em si mas um sintoma de que algo se passa em nós e que requer atenção. Como a febre alta, contudo, a ira não pode ser deixada solta, consumindo o organismo num calor que pode levar a convulsões e outras consequências; assim como a febre alta, deve ser aplacada de imediato, enquanto buscamos a cura da origem da nossa dor.
"A palavra branda acalma o furor, a resposta dura suscita a ira". Assim, se a ira quiser se apoderar de nós, seja por qualquer motivo, entreguemo-la de imediato a nosso Mestre. Ele a conhece, a vivenciou, e saberá o que fazer com ela. Onde ela quiser se instalar, chamemos sua antítese, a doçura divina. Doçura poderosa, que acalma os sentidos e nos devolve o equilíbrio. Como diz meu amigo Pe. Walther, o Mal é escandaloso, o Bem é discreto...