quinta-feira, 31 de março de 2011

A Mulher-Esqueleto

A história da Mulher-Esqueleto é uma história de amor que falou fundo à minha alma.  Porque como diz a autora, " para amar  é preciso não só ser forte, mas também sábio.  A força vem do espírito. A sabedoria, da Mulher-esqueleto."
Transcrevo a história e, na próxima postagem, comento...

"Ela havia feito alguma coisa que seu pai não aprovava, embora ninguém mais se lembrasse do que havia sido. Seu pai, no entanto, a havia arrastado até os penhascos, atirando-a ao mar. Lá, os peixes devoraram sua carne e arrancaram seus olhos. Enquanto jazia no fundo do mar, seu esqueleto rolou muitas vezes com as correntes. Um dia um pescador veio pescar. Bem, na verdade, em outros tempos muitos costumavam vir a essa baía pescar. Esse pescador, porém, estava afastado da sua colônia e não sabia que os pescadores da região não trabalhavam ali sob a alegação de que a enseada era mal-assombrada. O anzol do pescador foi descendo pela água abaixo e se prendeu — logo em quê! — nos ossos das costelas da Mulher- Esqueleto. O pescador pensou: "Oba, agora peguei um grande de verdade! Agora peguei um mesmo!" Na sua imaginação, ele já via quantas pessoas esse peixe enorme iria alimentar, quanto tempo sua carne duraria, quanto tempo ele se veria livre da obrigação de pescar. E enquanto ele lutava com esse enorme peso na ponta do anzol, o mar se encapelou com uma espuma agitada, e o caiaque empinava e sacudia porque aquela que estava lá embaixo lutava para se soltar. E quanto mais ela lutava, tanto mais ela se enredava na linha. Não importa o que fizesse, ela estava sendo inexoravelmente arrastada para a superfície, puxada pelos ossos das próprias costelas. O pescador havia se voltado para recolher a rede e, por isso, não viu a cabeça calva surgir acima das ondas; não viu os pequenos corais que brilhavam nas órbitas do crânio; não viu os crustáceos nos velhos dentes de marfim. Quando ele se voltou com a rede nas mãos, o esqueleto inteiro, no estado em que estava já havia chegado à superfície e caía suspenso da extremidade do caiaque pelos dentes incisivos.
— Agh! — gritou o homem, e seu coração afundou até os joelhos, seus olhos se esconderam apavorados no fundo da cabeça e suas orelhas arderam num vermelho forte.
— Agh! — berrou ele, soltando-a da proa com o remo e começando a remar loucamente na direção da terra. Sem perceber que ela estava emaranhada na sua linha, ele ficou ainda mais assustado, pois ela parecia estar em pé, a persegui-lo o tempo todo até a praia. Não importava de que jeito ele desviasse o caiaque, ela continuava ali atrás. Sua respiração formava nuvens de vapor sobre a água, e seus braços se agitavam como se quisessem agarrá-lo para levá-lo para as profundezas.
— Aaagggggghhhh! — uivava ele, quando o caiaque encalhou na praia. De um salto ele estava fora da embarcação e saía correndo agarrado à vara de pescar. E o cadáver branco da Mulher-esqueleto, ainda preso à linha de pescar, vinha aos solavancos bem atrás dele. Ele correu pelas pedras, e ela o acompanhou. Ele atravessou a tundra gelada, e ela não se distanciou. Ele passou por cima da carne que havia deixado a secar, rachando-a em pedaços com as passadas dos seus mukluks. O tempo todo ela continuou atrás dele, na verdade até pegou um pedaço do peixe congelado enquanto era arrastada. E logo começou a comer, porque há muito, muito tempo não se saciava. Finalmente, o homem chegou ao seu iglu, enfiou-se direto no túnel e, de quatro, engatinhou de qualquer jeito para dentro. Ofegante e soluçante, ele ficou ali deitado no escuro, com o coração parecendo um tambor, um tambor enorme. Afinal, estava seguro, ah, tão seguro, é, seguro, graças aos deuses, Raven, é, graças a Raven, é, e também à todo-generosa Sedna, em segurança, afinal. Imaginem quando ele acendeu sua lamparina de óleo de baleia, ali estava ela — aquilo — jogada num monte no chão de neve, com um calcanhar sobre um ombro, um joelho preso nas costelas, um pé por cima do cotovelo. Mais tarde ele não saberia dizer o que realmente aconteceu. Talvez a luz tivesse suavizado suas feições; talvez fosse o fato de ele ser um homem solitário. Mas sua respiração ganhou um quê de delicadeza, bem devagar ele estendeu as mãos encardidas e, falando baixinho como a mãe fala com o filho, começou a soltá-la da linha de pescar.
— Oh, na, na, na. — Ele primeiro soltou os dedos dos pés, depois os tornozelos.
— Oh, na, na, na. — Trabalhou sem parar noite adentro, até cobri-la de peles para aquecê-la, já que os ossos da Mulher-esqueleto eram iguaizinhos aos de um ser humano. Ele procurou sua pederneira na bainha de couro e usou um pouco do próprio cabelo para acender mais um foguinho. Ficou olhando para ela de vez em quando enquanto passava óleo na preciosa madeira da sua vara de pescar e enrolava novamente sua linha de seda. E ela, no meio das peles, não pronunciava palavra — não tinha coragem — para que o caçador não a levasse lá para fora e a jogasse lá embaixo nas pedras, quebrando totalmente seus ossos. O homem começou a sentir sono, enfiou-se nas peles de dormir e logo estava sonhando. Às vezes, quando os seres humanos dormem, acontece de uma lágrima escapar do olho de quem sonha. Nunca sabemos que tipo de sonho provoca isso, mas sabemos que ou é um sonho de tristeza ou de anseio. E foi isso o que aconteceu com o homem. A Mulher-esqueleto viu o brilho da lágrima à luz do fogo, e de repente ela sentiu uma sede daquelas. Ela se aproximou do homem que dormia, rangendo e retinindo, e pôs a boca junto à lágrima. Aquela única lágrima foi como um rio, que ela bebeu, bebeu e bebeu até saciar sua sede de tantos anos. Enquanto estava deitada ao seu lado, ela estendeu a mão para dentro do homem que dormia e retirou seu coração, aquele tambor forte. Sentou-se e começou a batucar dos dois lados do coração: Bom, Bomm!... Bom, Bomm! Enquanto marcava o ritmo, ela começou a cantar em voz alta.
— Carne, carne, carne! Carne, carne, carne!
 E quanto mais cantava, mais seu corpo se revestia de carne. Ela cantou para ter cabelo, olhos saudáveis e mãos boas e gordas. Ela cantou para ter a divisão entre as pernas e seios compridos o suficiente para se enrolarem e dar calor, e todas as coisas de que as mulheres precisam. Quando estava pronta, ela também cantou para despir o homem que dormia e se enfiou na cama com ele, a pele de um tocando a do outro. Ela devolveu o grande tambor, o coração, ao corpo dele, e foi assim que acordaram abraçados um ao outro, enredados da noite juntos, agora de outro jeito, de um jeito bom e duradouro.
As pessoas que não conseguem se lembrar de como aconteceu sua primeira desgraça dizem que ela e o pescador foram embora e sempre foram bem alimentados pelas criaturas que ela conheceu na sua vida debaixo d'água. As pessoas garantem que é verdade e que é só isso o que sabem."


 FIM DA HISTÓRIA

sábado, 26 de março de 2011

O corpo jubiloso

À procura da beleza escondida

Para entendermos melhor o sentido da história da Mulher-Borboleta, do poder feminino que emana do corpo, seja ele como for, grande, pequeno, magro, cheio, com ou sem cicatrizes, seja qual for a forma, a idade, o tipo de cabelo:  o poder da Mulher Selvagem é mágico e latente em todas nós, basta que o despertemos.  E ele anseia por despertar !!! Por abrir as janelas da alma, esse poder é um sol que brilha de dentro pra fora, é como a luz da manhã saindo por portas e janelas em direção ao mundo.... Somos poderosas e belas, simplesmente porque somos mulheres, lobas amantes e maternais, companheiras fiéis à sua alcatéia, caçadoras vorazes daquilo que realmente importa, somos a inspiração do divino, as musas da música, das letras, das artes, da natureza... A natureza é mulher, a Terra é mulher....

Para entendemos melhor o poder subjacente, aquilo que está por baixo, e que emana de nós como a luz dos avatares, reescrevo um trecho da Clarissa Estés onde ela mostra, em dois exemplos, que a beleza existe em cada corpo, inclusive no nosso, só precisamos abrir os olhos para enxergá-la, deixar essa luz apagar conceitos e idéias que os outros, coitados, teimam em querer nos inpigir...  Voltemos pois a aprender com as velhas, com os índios, com os antigos, ou seja, com os que realmente sabem....Boa leitura !!!!


“ Passei por duas experiências decisivas quando estava com  vinte e poucos anos, experiências que contrariavam tudo o que me haviam ensinado sobre o corpo até então.  Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres, à noite junto ao fogo e perto de fontes termais, vi uma mulher nua de cerca de 35 anos.  Seus seios estavam murchos de amamentar; seu ventre, estriado de dar à luz,  Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões sofridas pela sua pele fina e clara.  Alguém estava tocando tambores e maracás, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios , a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes.  Como era linda, como era cheia de vida.  Sua graça era de partir o coração,  Eu sempre havia ridicularizado a expressão “furacão nos quadris”. Naquela noite, porém, vi um exemplo.  Vi o poder das suas ancas.  Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar:  o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro para fora.  Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu uma mulher muito mais velha.  De acordo com os padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com peras, seus seios eram ínfimos  em comparação, e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas.  Uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo, indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte para descascar maçãs.  Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos,
Era, portanto, um mistério o motivo pelo qual os homens zumbiam à sua volta como se ela fosse um favo de mel.   Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito, descansar o rosto nas teias das varizes.  Seu sorriso era deslumbrante, seu caminhar, extremamente belo.  E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estava vendo.  Vi novamente o que me haviam a ignorar, o poder no corpo.  O poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com vergonha da própria carne."

Por Clarissa Estés,  em Mulheres que correm com os lobos
 

A mulher-borboleta

Reconto a história, que na narração original é bem mais longa e rica em detalhes, tomando a liberdade de usar palavras e metáforas da própria autora Clarissa Estés. Essa história é um ode ao poder feminino, um ode à beleza que há em cada uma de nós, mulheres de todas as formas, de todas as idades, de todas as tribos.  É um estímulo para o reencontro com nós mesmas, como belas criaturas que somos, somente por sermos mulheres. Em um tempo de mulheres-melancia, mulheres-morango e outras tantas figuras patéticas, divido com vocês algumas das verdadeiras faces de nós mesmas, as Mulheres-Borboleta, as Mulheres-Esqueleto, história que contarei mais tarde, a própria Donzela sem Mãos que já habita esse espaço, assim como Vasalisa e sua poderosa intuição.  No melhor espírito Sherazade, senta no teu tapete mágico por um instante , e voa com a Mulher-Borboleta.





" Lá na província longínqua de Puyé, no Novo México, existe o ritual da Mulher-Borboleta.  Descendentes dos apaches, dos navajos, dos hapis e de tantas outras tribos lá se reúnem, como num retorno às suas origens.  Para lá também rumam inúmeros turistas, com seus carros barulhentos,  suas máquinas fotográficas e suas cadeiras de armar. Esses turistas já se esqueceram de seus deuses ancestrais e por isso vão a Puyé observar os que  não esqueceram. Passam horas no calor poeirento, assistindo a uma série de apresentações que culminarão com a dança de uma só pessoa: ela, a Mulher- Borboleta!  A expectativa de se deparar com a frágil, delicada e diáfana Mulher-Borboleta é tremenda. Porém  os turistas ficam perplexos quando surge, aos saltos, María Lujan: Ela é grande, grande mesmo, e velha, muito velha, como uma mulher que voltou do pó; velha como um rio velho, velha como as mais velhas montanhas.  Ela usa uma manta vermelha e preta que deixa à mostra um de seus ombros, e traz asas de borboleta do tipo que as crianças fazem na escola.   Seu cabelo é de um cinza cor de pedra e vai até o chão e seus quadris e a barriga são enormes. Suas pulseiras de contas chocalham como cascavéis, suas ligas de guizos produzem o som da chuva.   Ela salta num pé só, e depois no outro.  Ela abana seu leque de penas por toda a parte.  Ela é a Borboleta que chegou para dar força aos fracos.  Ela é o que a maioria considera não ser forte; a velhice, a borboleta, o feminino.  Ela abana seu leque de penas e saltita porque está derramando pólen espiritual sobre todos os presentes.  Enquanto as tribos a fitam reverentes, os turistas a encaram decepcionados: Aquilo é a Donzela Borboleta? Parecem não mais se lembrar de que,  no mundo dos espíritos, as  mulheres são lobos, os maridos são ursos e as velhas de dimensões avantajadas são borboletas.Sim, é correto que a Mulher Borboleta seja velha e corpulenta, pois ela traz o mundo dos trovões num seio, e o mundo subterrâneo no outro.  Suas costas são a curva do planeta Terra com todos os seus frutos, alimentos e animais.  Na sua nuca, ela traz o sol nascente e o poente.  Sua coxa esquerda guarda todos os pinheiros; sua coxa direita, todas as lobas do mundo. Em seu ventre estão todos os bebês que um dia irão nascer.   A Donzela Borboleta é a força feminina fertilizadora.  Ela poliniza as almas da terra.  Ao transportar o pólen de um lugar para ou outro, ela fecunda por cruzamento, da mesma forma que a alma fertiliza a mente com sonhos...  Ela aproxima os opostos ao tirar um pouco daqui e levar para lá.  A transformação não é nem um pouco mais complicada do que isso.  É isso que a borboleta faz.  É assim que a alma atua.
A Mulher –borboleta corrige a idéia equivocada  de que a transformação é só para os torturados, para os santos, ou apenas para os tremendamente fortes.  O Self não precisa mover montanhas para se transformar.  Um pouco basta.  Um pouco vai longe.  UM POUCO MUDA MUITA COISA.
A intérprete da dança da borboleta tem que ser velha por representar a alma que é velha.  Ela é larga de coxas e ancas por carregar tantas coisas.  Seu cabelo grisalho garante que ela não precisa mais obedecer ao tabu do contato com outras pessoas.  É permitido que ela toque a todos: meninos, bebês, homens, mulheres, os idosos, os enfermos, os mortos.  É seu o privilégio de tocar a todos, esse é o seu poder. Seu corpo é o de La Mariposa, a borboleta. Ela é a intérprete da força instintiva, fertilizante, a que conserta, a que recorda antigas idéias.  Ela é “ La Voz Mitológica”. Ela é a encarnação da Mulher Selvagem."
FIM

Reflexões da autora:

  Está errada a imagem vigente da nossa cultura do corpo exclusivamente como escultura.  O corpo não é de mármore.  Não, não é essa a sua finalidade.  A sua finalidade é de proteger, conter, apoiar e atiçar o espírito e alma em seu interior, a de ser um repositório para as recordações, a de nos encher de sensações – ou seja, o supremo alimento da psique.  É a de nos elevar e de nos impulsionar, de nos impregnar de sensações para provar que existimos, que estamos aqui, para nos dar uma ligação com a terra, para nos dar volume, peso. É errado pensar no corpo como um lugar que abandonamos para alçar vôo até o espírito.  O corpo é o detonador dessas experiências.  Sem o corpo não haveria a sensação de entrada em algo novo, de elevação, de altura, leveza.  Tudo isso provém do corpo.  Ele é o lançador de foguetes.  Na sua cápsula, a alma espia lá fora a misteriosa noite estrelada e se deslumbra.
 * * *


A mulher selvagem pode compreender seu corpo, não como um peso morto que estamos condenadas a carregar por toda a vida, não como uma besta de carga, mimada ou não, que nos carrega por aí pela vida inteira, mas como uma série de portas, sonhos e poemas através dos quais podemos obter todo o tipo de aprendizado e conhecimento,  Na psique selvagem, compreende-se o corpo como um ser por seu próprios méritos, que nos ama, que depende de nós , para quem de vez em quando, somos a mãe e que, de vez em quando, representa a mãe para nós.

terça-feira, 8 de março de 2011

Para os que têm medo

Pode parecer sem pé nem cabeça mas há dentro de mim uma urgência em dividir com vocês um fragmento de texto que li sobre como vencer o medo.  O medo só se vence com enfrentamento. Não tem teoria que acalme um coração assustado, só entrando na jaula da fera você poderá domá-la.  Claro, há que se equipar... Ninguém vai pra batalha sem um escudo que seja, e se tivermos uma espada poderosa, melhor ainda.  Mesmo Davi se armou de uma funda para enfrentar o gigante Golias. Se nada tivermos como arma, fechemos os punhos e façamos de nós mesmos as nossas armas, e por isso aprendamos a lutar, a não ter medo do golpe, da investida, aprendamos a olhar no olho do inimigo para poder golpeá-lo no ponto certo, e derrubá-lo de uma vez.  Nada de fazer acordinhos  ou concessões com os nossos medos, nada de Síndrome de Estocolmo com eles, é Muay Thai , é pra derrubar de vez !
Então li esse texto que diz assim:
 "Comece.  É assim que se limpa um rio poluído. Se você tiver medo, tiver receio de fracassar, digo-lhe que comece já,  fracasse se for preciso, recupere-se, recomece.  Se fracassar de novo, fracassou.  E daí?  Comece novamente.  Não é o fracasso que nos detém, mas é a relutância em recomeçar que nos faz estagnar.  Se você estiver apavorado, qual o problema? Se você estiver com medo de que algo vá dar um salto para mordê-lo, então pelo amor de Deus, resolva isso imediatamente.  Deixe que seu medo surja e o morda para que você possa superá-lo e seguir adiante.  Você ira superá-lo.  O medo acaba passando.  Nesse caso, é melhor que você o encare de frente, que o sinta e que o supere do que continuar a usá-lo como pretexto para evitar limpar o rio..." 
Deixe que o seu medo lhe morda.  Enfie voluntariamente a mão no cesto da cobra, sinta a mordida, a queimação se espalhando na carne, o gelo tomando conta do peito.  Agarre com força esse medo , tire-o do cesto, olhe nos olhos dele e pergunte a ele: E agora?
O medo é venenoso, sem dúvida.  Paralisante, é certo.  Mas não é letal a não ser que o permitamos.  Assim, após a primeira mordida, começamos a ficar imunes, mais fortes, mais sábios.  Começamos inclusive a reconhecer o medo quando ele se apresenta mascarado... Nada de acordos com ele, volto a insistir.   Ter medo é inerente da condição humana, e enfrentá-lo é a própria caminhada. Pois o medo da dor é a própria dor, o  medo do medo é o próprio medo.  Podemos enfrentá-lo.  Sim, podemos com ele.